A história da autoconsciência da humanidade e de seu maravilhamento com o mundo, a paixão pela sabedoria. Assim é a filosofia. A mais antiga filosofia registrada veio da Índia. O hinduismo tem um rico legado de sábios, de especulações e de instituições profundas sobre as maneiras do mundo.
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Os hebreus antigos foram uma outra pujante força filosófica no mundo antigo. A concepção de um Deus único e da lei dada por Deus armaram o palco para a civilização ocidental. Eles nos deixaram um dos mais influentes livros da história, a Bíblia hebraica, ou o Antigo Testamento.
Mas antes dos hebreus antigos muitos povos já acreditavam na idéia de um Deus único como os babilônicos, mas o êxito dos hebreus foi contar sua própria história e refletir sobre ela. Já no Oriente Médio (Pérsia), um sujeito chamado Zaratustra de Balkh, ou Zoroastro (660-583 a.C.) começou a se mover rumo a um monoteísmo moral abrangente. Ele já se preocupava com o sofrimento e a maldade no mundo: como pode Deus permitir tamanho sofrimento?.
A China, no século VI a.C. já era uma cultura política extremamente avançada. Confúcio (600-500 a.C.) já falava da arte de governar, de conviver com os outros, do cultivo da virtude pessoal e a evitação do vício. Ele não tinha intenção de fundar religião, mas depois de sua morte ele foi admirado e o confucionismo (assim como o budismo) tornou-se a religião de um terço do mundo.
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Confucio |
Os gregos (helenos) não foram, no início, grandes inovadores com a historiografia atual detalhada. Eram um grupo de indo-europeus nômades que vieram do norte e tomaram o lugar de um povo já estabelecido às margens do mar Egeu. Ao começar a comercializar em torno do Mediterrâneo, apropriaram de elementos de outras culturas. Dos fenícios, tomaram um alfabeto, alguma tecnologia e idéias religiosas\ousadas. Do Egito, tomaram os modelos que mais tarde definiram a arquitetura grega, os fundamentos da geometria e algumas das idéias exóticas da religião grega do “mistério” primordial.
Da Babilônia (hoje Iraque), os gregos tomaram a astronomia, a matemática, a geometria e ainda outras idéias religiosas. Assim, a filosofia grega emergiu dessa mistura, dessas idéias que a filosofia (do grego philein, amor, e sophie, sabedoria) nasceu na Grécia...
O primeiro dos filósofos que queria entender a essência de todas as coisas foi o grego Tales, que viveu na Ásia Menor (Turquia) no século VII a.C. (624-546). Ele propôs que tudo efeito de água, via que todos os seres vivos precisam de água para sobreviver, e que, sem ela, a vida é impossível. E ele teve seus discípulos.
Anaximandro (610-545 a.C.), também de Mileto, organizou a cosmologia distinguindo terra, ar, fogo e água e como esses elementos atuavam umas sobre as outras e se opunham entre si. Para ele, o Ilimitado, onde tudo nascia e para onde tudo fluía, não se restringia às coisas da Terra. Nos céus também mundos surgiam do Ilimitado.
A filosofia milesia continuou com Anaxímenes que afirmou que o ar era o mais essencial dos elementos, condensando-se e evaporando, aquecendo-se e resfriando-se, adensando-se e rarefazendo-os. Tales, Anaximandro e Anaxímenes foram materialistas: o mundo era composto de algum tipo básico de matéria, fosse ela água, ar ou apeíron.
Já Pitágoras (571-497 a.C.) insistia que os ingredientes básicos do cosmo eram números e proposições. Ele usou a teoria das proporções para explicar, entre outras coisas, a natureza da música e os movimentos dos astros. Outro filósofo milésio, Heráclito (536-470 a.C.) era um recluso, gostava de enigmas, paradoxos e jogos de palavras enigmáticas que ocultava seus próprios significados. Para ele a natureza só seda a conhecer a muitos poucos. Por trás de todas as coisas existe um princípio organizador que chamou de logo se o mundo estava em constante mudança, “em fluxo”, e a estabilidade aparente era uma ilusão.
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Heráclito |
Parmênides (515-450 a.C.) propôs que tudo é feito da combinação de quatro raízes: terra, água, ar e fogo
–determinado pelo equilíbrio entre duas tendências: o amor (que une) e a discórdia (que separa). Ao misturar sal e água ação é o amor. Quando há separação (na decomposição) vemos a ação da discórdia. Forças de atração e repulsão. Segundo ele, os sentidos que usamos para perceber a realidade podem nos enganar.
Demócrito (460-370 a.C.) levou adiante a idéia das posições cada vez menores de matéria. Tudo é fei
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Socrates |
Aristóteles (384-322 a.C.) foi cosmólogo, astrônomo, meterologista, físico, geólogo, biólogo, psicólogo e muitas de suas idéias sobre as ciências naturais continuariam 500 anos após sua morte. E acabou por se transformar num enorme obstáculo ao progresso científico, pois suas concepções ocuparam um lugar tão central nas doutrinas da todo poderosa Igreja medieval que a formulação de teorias alternativas em ciência foi ativamente desencorajada durante séculos. Para Aristóteles, as coisas têm um potencial. Trata-se da teleologia, a intencionalidade das coisas.
Epicuro (341-270 a.C.) acreditava na paz de espírito, sua meta era libertar-seda ansiedade, alcançar a tranqüilidade. Há, até o momento, ausência de registros, idéias nas culturas da África e das Américas. Mas houve trabalhos florescentes, tradições diferentes e diferentes maneiras de ver o mundo e nele viver, mas grande parte de seus ensinamentos foram queimados pelos conquistadores, principalmente os espanhóis.
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Jesus Cristo (c.5 a.C-30 d.C.) levou ensinamentos como o amor e a importância de auxiliar os desaventurados. Um pensador judeu, Filo (20 a.C.-40 d.C.) reinterpretou as histórias bíblicas como formulações míticas acerca da natureza da condição humana e da relação da humanidade como o divino. Plotino (c.205-269 d.C.) trouxe a teoria de emanações. Santo Agostinho (354-430 d.C.) abraçou a concepção de que o guia correto para a revelação eram as Escrituras. “Penso, logo existo”, afirmação atribuída a Descartes, aparece nos escritos de Agostinho 12 séculos antes. Com ele, a vida pessoal, interior, do espírito começa a ocupar o centro do palco no pensamento ocidental.
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Maomé |
Ibn Rusd (1126-1198) insistiu em que Deus não era distante, estando ativamente envolvido no mundo. Já Moisés Marmônides (1135-1204) procurou harmonizar a religião e razão. Tomás de Aquino (1225-1274) pretendia mostrar que a fé cristã fundava-se na razão e que a lei inerente à natureza é racional.
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Martinho Lutero |
O francês João Calvino (1509-1564) queria uma igreja institucional e um sistema de teologia para distinguir a verdade da heresia. O holandês Erasmo (1469-1570) defendeu que a mais feliz das vidas é não saber coisa nenhuma. Nicolau Copernico (1473-1543) afirmou que o Sol, não a Terra, era o centro do universo. Francis Bacon (1561-1626) formulou o material do método científico, que envolve observação cuidadosa e experimento controlado, metódico.
Thomas Hobbes (1588-1679) defendeu uma cosmologia materialista que não excluía a teologia. René Descartes (1596-1650) tentou criar uma união entre o céu e Terra, postulando que tanto os movimentos celestes quanto os terrestres se davam em um meio material semelhante ao éter dos aristotélicos.
Michel de Montaigne (1553-1592) meditou sobre os desatinos dos homens e recomendava tolerância num mundo conturbado pela inquietação religiosa que então reinava na Europa. O holandês Baruch Spinoza (1632-1677) defendeu a tese conhecida como determinismo e o alemão Gottfield Wilhelm von Leibniz (1646-1716) sugeriu uma língua universal e o “princípio da razão suficiente” afirmando que nada acontece sem razão.
O físico Isaac Newton (1462-1727) que descrevia o movimento dos corpos sob a ação de forças, inclusive a gravidade. Voltaire (1694-1774) defendeu a razão e a autonomia individuais, preparando terreno para a revolução na França. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) elaborou sua teoria da natureza humana como “basicamente boa” e sua concepção de sociedade humana que se junta por razões de segurança mútua e realizar nossas naturezas morais mais elevadas.
Thomas Jefferson (1743-1826) incluiu a idéia de direitos humanos naturais, entre os quais os direitos à vida, à liberdade, à propriedade privada e a busca da felicidade. Adam Smith (1723-1790) apresentou uma defesa parcial da lei da oferta e da procura. Já Imnanuel Kant (1724-1804) insistiu que deveríamos “limitar o conhecimento para dar lugar à fé”. Hegel (1770-1831) defendeu a fenômenologia do espírito.
Arthur Schopenhauer (1788-1860) sustentou que a vida é sofrimento. Para ele, a experiência estética, ou seja, a arte, proporciona um paliativo para o sofrimento. Soren Kierkegaard (1813-1855) insistiu na importância da paixão, do livre escolha e da definição de si mesmo. É o início do existencialismo.
Ludwig Feuerbach (1804-1872) é o autor de ”você é o que come”. Já Karl Marx (1818-1883) observando as forças produtivas e as classes sociais econômica sem competição. O alemão Friedrich Nietzsch (1844-1900) insistiu de que devemos voltar os olhos para a história para avaliar quem somos. Ele defende a visão “além do bem e do mal” em favor da valorização da vida.
Henry David Thoreau (1817-1862) tinha aversão pelos excessos da sociedade civilizada e defendeu a tática da não-cooperação contundente como meio pacífico de conquistar reformas sociais importantes. Charles Sanders Peirce (1839-1914) desenvolveu uma teoria dos signos e sua inter-relações.
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Sigmund Freud |
Sigmund Freud (1856-1939) trouxe a idéia de que a mente é em última análise uma entidade material (o cérebro) analisável em termos de neurologia, circuitos de energia e da linguagem da física. O “inconsciente” foi um tópico de discussão para gerações de filósofos. O sociólogo Max Weber (1864-1920) estudou a racionalidade. Para ele, o capitalismo é produto do protestantismo.
O francês Henri Bérgson (1859-1941) gerou em tornou da idéia de duração, a realidade da mudança. O espanhol Miguel de Unamuno (1864-1936) estudou o senso trágico da vida cheia de ansiedade, brutalidade e decepção. O italiano Benedito Croce (1866-1952) enfatizou o desenvolvimento da consciência humana.
Martin Heidegger (1889-1971) buscou a autenticidade, ou do que poderia ser definido como “mesmidade” que nos transportaria de volta para as questões perenes sobre a natureza do eu e o sentido da vida. O escritor franco-angelino Albert Camus (1913-1960) captou a sensibilidade do século com sua noção dramática do “absurdo”. Gabriel Marcel (1889-1973) insistiu em que deveríamos encarar as experiências mais profundas da vida sem a falsa fachada da objetividade, isto é, sem por essas experiências à distância como meros problemas a resolver.
Simone de Beauvoir (1908-1986) explicou em detalhes as implicações éticas do existencialismo de Sartre. Martin Luther King Jr (1929-1968) defendeu a idéia de uma sociedade plenamente integrada. Malcolm (1825-1965) contestou a opressão social. Toda a obra do francês Gilles Deleuze (1925-1995) é atenta ao que se inventa no domínio do pensamento, da política e da História. Ele acreditou que a filosofia excede a simples arte de formar, de inventar ou fabricar conceitos. Para Deleuze, a arte é um vestíbulo da filosofia, uma preparação necessária para se penetrar nos seus intrincados domínios.
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Jacques Derrida |
Hannah Arendt (1906-1975) procurou suas raíses profundas no progressivo revolvimento da “vida da mente”, na distorção sofrida pelas nossas faculdades: o pensar, o querer, o julgar. Jurgen Habermas (1929- ) diz que as mídias fizeram um desenho e o chamaram razão. A ação comunicativa retece incessantemente seu desafiado tecido simbólico.
John Rawls (1921-2002) pensa o ordenamento das sociedades democráticas, para fixar um ponto de equilíbrio entre a tradição liberal da defesa das liberdades individuais e a democrático-radical de promoção das chances de vida aos mais desfavorecidos. Bernard Henri Lévi (1948- ) é iluminista e ateu, defende o islamismo moderado contra a ameaça do radicalismo islâmico, e procura marcar posição como ativo defensor dos direitos humanos e da universalidade dos valores ocidentais dominantes. Ele é um intelectual público à francesa, mais do que um filósofo técnico. Tornou-se um dos expoentes dos Novos Filósofos, crítico sobretudo do pós-estruturismo e do marxismo.
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) foi um filósofo fenomenologista francês. Para Merleau-Ponty, o ser humano é o centro da discussão sobre o conhecimento. O conhecimento nasce e faz-se sensível em sua corporeidade. Michel Foucault (1926-1984) descreveu os mecanismos ocultos de grandes estruturas que governam nossos comportamento: a psiquiatria, a justiça e seus agentes.
Georges Bataille (1897-1962) escreveu sobre sexo e morte a partir de uma experiência de vida radical, além do conteúdo sagrado do sacrifício.
Michel Onfray (1959 - ) filósofo francês que se dirige pela fala e escrita a um público: o da Universidade popular, criada por elevem 2002 na cidade de Caen e já se expandiu entre outras localidades. Ele ministra aulas públicas e gratuitas, além da difusão das aulas na Radio France Culture. Para ele é urgente se passar da era da religião para a era da filosofia de massa. A reivindicação ateísta de Onfray caminha junto com a reabilitação do corpo, dos sentidos, e dos prazeres.
Luc Ferry (1951- ) filósofo francês da atualidade e um homem público engajado na transformação da França. Sua preocupação central de filosofia deve ser a de auxiliar as pessoas a superar seus medos e a viver bem. Segundo ele, os medos a serem superados são de três tipos: os medos sociais, as fobias e os medos metafísicos.
Outras leituras para quem deseja se aprofundar mais:
A Filosofia do Século XX, de Remo Bodei. Edusc, 2000
Uma Breve Introdução à Filosofia, de Thomas Nagel, Martins Fontes, 2001
Paixão pelo Saber. Uma breve historia da filosofia, de Robert C. Solomon & Kathleen M. Higgins. Civilização Brasileira, 2003
Mundos Invisíveis. Da alquimia à física de partículas, de Marcelo Gleiser. Editora Globo, 2008.
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